Um
dos maiores problemas das cidades brasileiras é o da mobilidade urbana. As
pessoas têm dificuldades absurdas ao se locomoverem pelas cidades e por isso
têm problemas no acesso ao poder público (seus serviços e instituições), no
acesso ao estudo e lazer, aos espaços de cuidado com a saúde, entre outros. Com
o passar do tempo as cidades são mais de “uns”, que vivem nos melhores locais,
que de “outros”, que vivem em lugares distantes e periféricos. Não há
planejamento urbano e só cresce a especulação imobiliária, num movimento de
constante aumento dos preços e aluguéis ao redor de áreas tidas como “nobres”, que
concentram os melhores serviços, instalações e equipamentos públicos (creches,
escolas, hospitais, melhores ruas e praças, opções de lazer e etc.), o que joga
a população de menor renda para a periferia. Para piorar o quadro, em geral, as
empresas de transportes coletivos praticam preços absurdos e oferecem um
serviço de baixíssima qualidade, pois financiam as eleições municipais. Ou
melhor, investem em seus candidatos. Assim, durante todo um mandato municipal, elas
têm o apoio do poder público pra fazerem o que querem. Só a mobilização popular
pode enfrentar esse terrível problema.
No
dia 31 de março os moradores de Santa Maria II e Vila Ursulino deram exemplo.
Fizeram um protesto contra a situação dos ônibus nesses bairros parando a
circulação dos coletivos das 7h e 15 min às 11h e 30 min. O protesto chegou a
sair em jornais locais. Interessado nesse importante exemplo de mobilização
popular, o Psol Barra Mansa entrou em contato com moradores da localidade e
marcou um bate-papo sobre o tema.
No
caminho para a Santa Maria II nos deparamos com uma imagem que expressa como a
prefeitura atual trata os direitos da população, COM MUITO MARKETING E POUCO RESPEITO. Na rua Risoleta Neves (no bairro Santa
Maria II) há uma faixa, em nome de Rodrigo Drable e de um candidato a vereador,
agradecendo os votos recebidos. Ao lado, um ponto de ônibus em estado
deplorável. A rua está toda esburacada. Quando chegamos ao local do bate-papo
também nos deparamos com um terrível cenário: a academia da terceira idade, na
mesma rua, tem mato saindo das rachaduras no concreto, o pequeno campo de
futebol ao lado foi tomado pelo mato e o rio Bananal que passa ali está
assoreado e também tomado pelo mato, parecendo um córrego, o que leva ao
alagamento quando chove. Além disso, a iluminação do local é precária, o que
coloca em risco todos os moradores que circulam por ali.
Conversamos com cerca de dez
moradores sobre a situação dos bairros no dia 13 de abril. Janaína Carla,
afirmou que:
Seis horas da manhã o ônibus já vem
lotado. Tanto da Vila Ursulino para o Santa Maria II, quanto do Santa Maria II
para a Vila Ursulino/Centro. Lotado. Seis e vinte da manhã lá na Vila Ursulino
as crianças não conseguem entrar no ônibus. Aí chega atrasado! Ou chegamos em
nossos compromissos muito antes ou muito atrasados.
As crianças são
um dos principais alvos do problema. Os bairros Vila Ursulino e Santa Maria II,
juntos, tinham cerca de 4000 habitantes em 2010, mesmo número do bairro Vista
Alegre que é considerado populoso. 20% desses habitantes são crianças (FONTE:
Censo IBGE, 2010). Ou seja, hoje, centenas de crianças enfrentam essa situação
que compromete parte de seu desempenho escolar e as coloca em perigo. Um
morador local disse ir à escola de bicicleta levar e buscar dois filhos, todos
os dias, pois eles não conseguem ir de ônibus.
A situação dos
idosos também é crítica. Janaína contou que recentemente pegou um ônibus na
Colônia, alternativa usada pelos moradores de Santa Maria II para lidar com os
atrasos dos coletivos que passam pelo bairro, e quando entrou no ônibus lotado contou
oito idosos em pé, “eu fiquei tão chocada [...] Tudo espremido naquele meio”.
Dona Léia, por sua vez, disse:
Segunda-feira eu fiquei de 13h e
15min até 14h e 15min no ponto inicial esperando. Não passou nem Santa Maria
II, nem Vila Ursulino. Eu tinha médico. Eu perdi o médico. Aí, eu quero saber
quem vai ressarcir o valor da minha consulta? [...] Nós moramos aqui. Nós
pagamos impostos.
Além do prejuízo financeiro, a situação colocou sua
saúde em risco. Dona Léia foi à Coordenadoria de Trânsito e Transporte de Barra
Mansa (COORTRAN), no Parque da Cidade, e não encontrou ninguém para atendê-la.
Cabe lembrar que a travessia para a colônia, via passarela ou ponte, não é
segura. Há mato por todos os lados e a iluminação é precária.
A retirada de dois carros do horário de pico/rush (bem cedo, pela manhã, e na volta
do trabalho, de tarde), desde o ano passado, gera sérios problemas pra todos.
Além disso, o “Jardim Amália” que era uma opção para os moradores irem direto
para Volta Redonda, de hora em hora, depois de se tornar linha da empresa
Falcão não faz mais esse trajeto. Os trabalhadores da CSN são os mais
prejudicados nesse caso. A falta de opção e horários aumenta o tempo da jornada
de trabalho das pessoas e piora a qualidade de vida. Dona Lúcia disse que usava
este ônibus para fazer aulas de dança em Volta Redonda, agora qualquer pessoa
que trabalha ou estuda lá tem que pegar dois ônibus.
Dulcinéia foi enfática sobre a piora recente no
serviço de transporte: “Ou fica como está, ou melhora. Agora, piorar não dá!”
Os moradores ressaltaram o “descaso total” do poder público, que deve permitir
o aumento da passagem para R$4,20, em maio. A informação já circula via “boca
de peão” (rumores entre a população). Vale ressaltar que a passagem em Barra
Mansa sempre foi UMA DAS MAIS CARAS DO BRASIL. Nas duas capitais mais
importantes do Sudeste, Rio de Janeiro e São Paulo, o valor da passagem nesse
ano é R$3,80. Na capital federal (Brasília) a passagem é R$3,50 (FONTE: As
capitais em que a tarifa do ônibus ficou mais cara em 2017. Revista Exame, 9/01/2017). Como se
justifica R$3,80 em Barra Mansa?
Todos esses problemas levaram os moradores à
mobilização. Após o protesto a empresa Triecon e Colitur, que formam o
consórcio TransBM, informou aos jornais locais que tinha enviado um
representante para falar com a população. Os moradores afirmaram que a empresa
não enviou ninguém. Por outro lado, O Secretário de Ordem Pública, Luiz Furlani,
pediu para que representantes do movimento fossem ao seu encontro. Os
representantes foram, mas não foram recebidos por ninguém. Dessa forma, a
população local fez novo protesto no dia 17 de março (segunda-feira) próximo ao
C.M. Dr. Elvino, na Vila Ursulino.
A população bloqueou a passagem de quatro ônibus e
solicitou a presença de um representante da prefeitura capaz de dar uma
resposta que avance na solução do problema. Esse alguém não tinha aparecido até
a redação desse texto, mas a Guarda Municipal e a Polícia Militar foram os
primeiros agentes do poder público a chegar no local. Foi informado que Luiz Furlani (Sec. de Ordem Pública) pediu uma nova comitiva
para se encontrar. Porém, com base no descaso anterior, a população exigiu a
presença dele no local do protesto. A solicitação de comitivas visa a
enfraquecer os atos e esvaziar o local destes.
Então, já que todos fogem, nos perguntamos: a quem
cabe a responsabilidade de gestão do serviço de ônibus? Resposta: à prefeitura.
Segundo a legislação vigente:
A Prefeitura de Barra
Mansa na qualidade de gestora do sistema, definirá as linhas urbanas quanto à
sua nomenclatura, itinerário, horários de atendimento, número necessário de
veículos em função da demanda e tipo de veículo a ser utilizado em cada uma delas.
(FONTE: Edital de Transporte Coletivo, 2014, p. 718. Lei: 3355 de 2002)
Voltando à postura da prefeitura de muito marketing e pouco respeito, cabe lembrar
o Programa de Governo do HORRORdrigo Drable, usado em sua campanha. O programa
afirma que é objetivo “melhorar percursos, a frequência e
reestudar valores de tarifa e padrões do transporte coletivo da cidade”.
Como diz o ditado, “falar é fácil(...)”, e cabe exclusivamente à prefeitura
lidar com esses problemas. Ela e os vereadores têm também a responsabilidade de
não penalizar a população com tarifas absurdas.
A CIDADE É UM
DIREITO DE TODAS E TODOS!
É preciso democratizar o uso das cidades! Essa luta é uma
responsabilidade de todos. Que os movimentos pela mobilidade urbana cresçam em
todos os bairros e que, juntos, possamos garantir nossos direitos e impedir
abusos! Uma outra cidade é possível! Uma outra Barra Mansa é possível!
Sugestão: A quem possa interessar, aqui vai o link da fala
de Kenzo, integrante do movimento RUA (Juventude Anticapitalista) e do Partido
Socialismo e Liberdade (PSOL), sobre Mobilidade Urbana, a convite do PSOL Barra
Mansa. O evento ocorreu no Palácio Barão de Guapy no dia 8/02/2015. Na ocasião,
estávamos acompanhando o último processo de licitação na cidade.
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